“As taxas de CDI, Selic e NTNs – curtas e longas – apontam chances limitadas de superar o juro atuarial, então eu diria que a situação em 2017 é delicada para quem não fez os necessários movimentos aproveitando o fenômeno global de queda dos riscos soberanos registrados até agora”. Esse fenômeno internacional, que favoreceu a alocação em ativos de risco desde fevereiro de 2016, e que muito ajudou os países emergentes, pode estar no limite, avalia o especialista. “Esse movimento provocou a queda do risco Brasil de 500 pontos para 220 pontos e melhorou a situação dos ativos de risco, tornando a renda variável uma alternativa novamente atraente e permitindo que as entidades acumulassem alguma gordura”.
Mas, levando em conta um cenário interno em que a macroeconomia ainda produz estimativas incertas, ele considera que essa janela, ao menos por enquanto, exige cuidado. Diversas entidades souberam fazer alocações estratégicas em renda variável de modo a acumular gordura para enfrentar 2017 com certo conforto e talvez também 2018, que deverá ser um ano crítico. “Será preciso buscar novas opções fora da renda fixa tradicional mas sem necessariamente assumir riscos por enquanto, até porque o juro em queda não traz como consequência obrigatória a alta da bolsa”, afirma Ribeiro.
Mix cuidadoso – As EFPCs estão bem posicionadas em títulos públicos e contam com a experiência de ciclos anteriores de queda dos juros, lembra o coordenador da Comissão Técnica Nacional de Investimentos da Abrapp e diretor de Investimentos e Finanças da Valia, Maurício Wanderley. Uma equação que integre um pouco mais de risco na renda fixa e talvez um pouco mais de renda variável e mesmo um aumento na alocação em ativos de crédito poderá trazer oportunidades, pondera Wanderley. No caso específico da Valia, a decisão sobre o ritmo de investimento em produtos como private equity, por exemplo, ainda vai depender da normalização dos mercados, que já dá sinais de ter começado, segundo o diretor: “A crise atrasou os desinvestimentos em PE, então precisamos esperar desinvestir para decidir o que fazer mais adiante, mas por enquanto alcançamos as metas a que nos propusemos nesses ativos”.
Com vencimentos em NTN-Cs agora no primeiro semestre, a Valia já havia providenciado a rolagem e o alongamento de prazos desses papéis. Tanto para os estoques de seu plano BD, maduro, quanto para os estoques dos demais planos a questão está resolvida, informa o diretor. “Aproveitamos bem a abertura das taxas e o retorno da renda variável aumentou marginalmente”. A Valia reúne, em todos os seus planos, um patrimônio da ordem de R$ 21,255 bilhões. A entidade estuda como se posicionar mais para a frente em relação à alocação dos novos recursos que entrarem e o diretor ressalta que o juro real na ponta curta ainda está suficientemente alto. “Para o dinheiro novo, no entanto, vamos ter que nos defrontar com a realidade do juro menor”.
O maior desafio, explica Wanderley, será como equacionar a renda fixa nos planos de Contribuição Variável (CVs) da fundação, que somam cerca de R$ 10 bilhões. “Aí há obrigações de risco por morte e invalidez, benefícios de renda vitalícia, entre outros, e a parte CD desses planos, onde estão os perfis; na verdade os CVs são compostos por vários pedaços diferentes”. A decisão, porém, dependerá muito também dos movimentos dos participantes nos perfis de invetimento. Atualmente, a entidade mantém perfis com percentuais de 20% e de 40% em renda variável, e permite trocas de perfil a cada 12 meses. Por enquanto, as migrações tem sido discretas.
Retorno cadente – Com os títulos públicos pré-fixados para vencimento em 12 meses pagando taxa nominal de 9,55% ( LTN de 12 meses) e inflação de 4,60% (IPCA de 12 meses segundo pesquisa Focus divulgada no dia 10 de abril), o juro real pago pela LTN é de 4,73%, observa Ribeiro. O que significa que o retorno proporcionado pelas LTNs com referência na Selic projetada em 12 meses cairia para 4,21% ao ano depois de excluída a taxa de administração do plano de benefício de 0,5% ao ano, “o que está muito abaixo da grande maioria das taxas atuariais adotadas pelas entidades”.
Na Eletros, a carteira já passou por um movimento de ajuste e está adequadamente posicionada, diz Ribeiro. “Mantivemos o percentual de 15% em média em renda variável porque era uma alocação estratégica, baseada em ALM, e não há perspectivas de ampliá-lo, mas já há uma margem boa de gordura para enfrentar a conjuntura de queda no retorno da renda fixa”. A decisão de aumentar alocação em renda variável agora é complexa, lembra Jair Ribeiro: “o movimento global de redução dos prêmio de risco já dura 14 meses e não se sabe qual será sua extensão”. ( Martha E. Corazza )